Thursday, April 26, 2007

a morte é uma flor

a paul celan


a rosa que desabrochava não era um sopro de vida, mas um de morte. depois deste despertar para a vida, de olhos fechados e alma esvaziada, então sim poderíamos saborear a única coisa que existe, que pode existir: o fim. sai-se serenamente da vida, nunca em fúria. a morte não tem paixão.

dores

se de cada vez que se levantasse da cama com dores, o homem as vertesse para uma folha em branco, neste momento seria um autor consagrado no domínio do romance existencialista.

o poeta e a sua obra

o rapaz conhecia a obra do poeta através da sua extensão produção literária.
a rapariga conheceu a obra do poeta comendo-lhe o filho.

didáctica da escrita

ele escrevia para saber coisas. quanto mais escrevia mais sabia do mundo e de si. aquele esvaziamento de si mesmo, pelo acto da escrita, tinha qualquer coisa de didáctico.

um ícone

mais do que o grande romancista do século xx, ele era conhecido como o grande romance desse mesmo século.

Wednesday, April 18, 2007

dezoito de abril

Fiona Apple & Johnny Cash - Bridge Over Troubled Water

Saturday, April 14, 2007

lado direito II

o que mais lhe custava na paralisia do lado direito não era a dificuldade em fazer as coisas. o que lhe custava mais era a impressão de que, no seu próprio corpo, lutavam dois homens diferentes.

escrever

perguntaram ao homem porque escrevia tão bem. o homem respondeu: «metade disto é sangue».

lado direito I

ele brincou, afirmando que «deus está morto». deus, em resposta, paralisou-lhe o lado direito do corpo. «aqui tens um sinal de vida».

Wednesday, April 04, 2007

do juízo

diziam-no louco. o homem branco queria matar alguém, mas não sabia quem. se matasse o branco, seria um homem perigoso e psicótico, não viveria novamente entre os seus iguais. se matasse o preto, seria apenas racista. estava na dúvida. não era louco, o homem.

da bondade

vindo dos seres humanos execráveis, um acto de bondade vale uma vida inteira. vale, no mínimo, 100 boas pessoas. «não os habitues à bondade, meu caro, que um dia eles engolem-te junto».