E, de repente, estou sozinho em casa com o cão. O silêncio parece fruto de uma multidão furiosa de amantes da calma, de tão calada que parece a casa. De noite a madeira ressoa debaixo dos pés e estala no lado oposto do lar. Na verdade, é até incómodo, de tão habituado que fiquei a estar acompanhado praticamente todo o tempo. A leitura torna-se sagrada e dedicada mas, ao mesmo tempo, monótona. Decido adiar. Ligo o computador e espreito uma página pornográfica. Já lá vai algum tempo. Aprecio o trabalho destas mulheres. Torço e rodo a cabeça para acompanhar os movimentos acrobáticos. Ena, uma perna feminina por cima do homem, desafiando as leis musculares que regem as limitações atléticas e ditam a vulgaridade do corpo humano. Um salto alto apontado para o tecto, a fazer de minarete, mas o homem não me parece muçulmano, nem vai com intuito de rezar. Acho piada ao salto alto, mas nunca me prendi por pormenores. Muito menino começa por achar graça aos adereços das mulheres durante o sexo e acaba a vestir-se de mulher. Aliás, considero-me um ateu. Esta não seria uma excepção. Não ligo aos minaretes. Sou, infelizmente, um sujeito demasiado medíocre para acreditar em mais do que na superstição. Há quem me chame concreto e chama bem. Gosto da imundície fingida que se passa na pornografia normal. Gosto das performances teatrais da maior parte delas. Uooopá... ali vai ela. Grita bem e merece um prémio. Aplaudo sozinho em frente ao computador e quase que me apaixono pela ruiva, que acabou de rodar sobre si mesma e ficar por cima, no comando das operações. Nunca deixou de estar espetada na estaca, em todo este movimento. O meu cão ladra da entrada perante todo o espectáculo e interpeto-o como um sinal divino. «Os ateus visionadores de porno arderão no inferno», penso. À noite sozinho em casa este não deixa de ser um sinal arrepiante. É melhor não desafiar estas leis. Mando um beijo à ruiva das mamas grandes e desligo o computador. Soube-me bem. Sempre gostei de teatro. E ainda dizem que não se aprecia em Portugal.
Friday, October 03, 2008
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